Descobri-te num dia em que deveria ser igual a tantos outros. Estavas ali, mergulhada em números que por alguma razão, saíram dos limites. Uma sentença que foi declarada e tornou mais cinzentos meus dias.
Não sei há quanto tempo já fazias parte de mim, mas nesse dia, há mais ou menos 12 anos, comecei esta luta que continuo, sem saber quem será o vencedor e o vencido.
Tua companhia obrigou-me a ceder e a abdicar de muitas coisa que gostava…principalmente daquelas que tornam a vida mais doce, mais suave!
Habituei-me a tua presença constante e aos teus caprichos. Sempre foste difícil de controlar e manter-te quieta é algo que muitas vezes me deixa desesperada.
Sempre que o permito (sim, porque só eu sou a culpada por o permitir…), que saias dos teus parâmetros, provocas em mim mais uma dor… Uma dor lenta e silenciosa que cresce sem se mostrar mas que passado algum tempo começa a revelar-se, trazendo tua assinatura. Apoderas-te do meu corpo tentando minar-me a alma… Porquê?
Eu sei as respostas, que são muitas, porque a ti, conheço-te de cor… Aprendi tudo o que havia para aprender e sigo cada passo teu…
Todos os dias, sinto-te nas pontas dos meus dedos, calada, persistente…rindo dos meus esforços por te manter quieta. Mas a cada gota de sangue que te dou, também ganho mais uma certeza: não vou desistir!! Não te vou deixar ganhar nem dar-te o direito de condicionares minha vida.
Hoje escrevo para ti, porque há alguns dias, descobri que me queres tirar a luz, as cores…que queres meu olhar…
Não nego que estou com medo… Sentimento novo que tu despertas pela primeira vez mas, isso dá-me mais força para continuar esta luta infinita de te manter presa nos limites de onde nunca deverias ter saído.
Conheço-te bem sim e talvez tu me conheças ainda melhore por isso te aproveitas de minhas fraquezas. Mas, acredita, que não te vou deixar pintar meu mundo de escuridão…
Escrevo-te porque as palavras são meu mundo e nelas quero-te prender… São nestas palavras que te digo, inimiga de uma vida, que apesar de teres vencido muitas batalhas, ainda não ganhastes a guerra. Porque enquanto eu viver, cada sopro será para te vencer…
Escrevo-te porque sou diabética e cada dia é um dia de luta contra ti!
Uma lágrima cai silenciosa, arrastando com ela uma dor que ficou presa em minha alma. Corre devagarinho pelo rosto, tocando de leve meus lábios, num beijo que guarda o gosto a sal. Desagua serena num pranto calado que eu escondo por detrás de um sorriso…
Uma lágrima que se faz emoção nos sentidos que foram de alguém e se fizeram meus. Nasce de um desejo acordado pelo toque suave de uma carícia escrita com as pontas dos dedos, de um beijo sentido nas palavras ditas em silencio…
Uma lágrima que é simplesmente mulher. Real ou sonhada, já não sei… Ela é palavra ao vento e alma de Outono, sorri nas lágrimas e chora os sorrisos…Mas é uma só, simples, feita de sentidos e emoções, de sonhos e de realidades, de passado e presente…
Um ser perdido no vazio em se deixou prender e que naufragou nas sensações gravadas no corpo, no coração…na alma!
Uma lágrima que alguém guardou em sua mão, aprisionando seu amor que em silencio se faz poema nas palavras escritas… Lágrima que se faz mar de saudade e que beija ternamente os lábios de quem a faz nascer…
Lágrima sentida que não é mais do que eu…
A manhã chegou devagarinho, lembrando que mais uma semana começa e que está na hora de levantar para mais um dia. Como todos os dias, espero sentada na beira da cama, que os sonhos desaguam num mar de esquecimento e que a realidade que é feita apenas de rotina, tome seu lugar em meu pensamento...
Olho o dia pela janela que pouco a pouco se revela e sinto frio. Como pode a luz que ilumina meu mundo ser tão gelada? Já senti seu calor em cada raio de sol e até a magia num raio de luar. Mas e agora? De onde vem esta sensação de perda que faz minha alma naufragar num mar de emoções perdidas?
Enquanto a agua quente do chuveiro me aquece a pele, as lagrimas caiem silenciosas, misturando as gotas que correm em direcção ao infinito. O coração sente aquilo que o pensamento tenta afastar e perde o compasso nessa luta sem vencedores que é deixar de sentir.
Saio para a rua e os sorrisos abrem-se num bom dia cordial, cheio de simpatia. O mundo continua igual, como seus segundos que se transformam em horas... nos seus instantes que se fazem eternidade, na dor que fica, na esperança que morre... nas forças que acabam e nos deixam caídos por terra.
Sigo caminho ocultando a alma que se desfez em mil pedaços, tentando que o sorriso que nasce seja pelo menos bonito para quem o recebe, mesmo que seja feito de um vazio que nada pode preencher. Passo a passo, olhar distante, preso num horizonte que se desfez na magia que se perdeu...
As horas passam e dou-me conta que nem sequer as contei. O tempo é agora apenas aquilo que sempre foi...tempo de nada, de ninguém...tempo de vida sem vida!
Pergunto-me se não será melhor assim. Acordar para um dia que depressa acaba e de novo deitar-me nos sonhos que embalem a alma nas saudades que quero apagar...
Sim... Talvez o dia seja afinal, apenas isso, mais um dia... sem sentido talvez, mas também sem magoa, sem lagrima, sem dor... Apenas mais um dia!!