O tempo pára no momento exacto em que o coração perde o ritmo. Momento em que uma voz ecoa no silêncio que pinta minha alma. No som que enche, com magia, cada recanto de meu ser, encontro a doce melodia daquilo que sempre procurei… o sentido da vida!
Sorrio para o silêncio que se transforma em canção… E canto…canto baixinho as quadras que inventei, as rimas que nasceram do sonho que eu julgava perdido. Volto a sonhar…
Minha voz perde-se no tempo, que por um instante apenas, se deixou prender e ficou suspenso no desejo… na vontade de tornar real as telas que sempre pintei em minhas paredes brancas…
A melodia que meu coração toca baixinho, enfeita de sons suaves as cores que se fizeram lágrimas e delas brotam gotas de luz que marcam a esperança de um novo sentido…
O tempo pára no momento em que o coração perde o ritmo… para tocar, no silêncio da alma, a doce melodia do amor.
O dia amanheceu cinzento, trazendo a chuva que lava a natureza do pó que se acumulou com os dias de sol, como lágrimas que limpam a alma de tristezas que o tempo fez crescer…
O dia amanheceu triste mas traz com ele uma nova esperança, uma nova magia. Uma alvorada de sentidos que despertam…uma aurora de emoções que faz o mundo girar no sentido certo, sem pressa, sem dor…apenas com um sorriso!
A alma que se vestiu de Outono, enfeita-se de suas cores quentes e alimenta-se dos raios de sol que surgem por entre as nuvens. Deixa as tristezas voarem para longe, como folhas a bailar ao vento… O Outono que se aproxima, traz o feitiço do sonho!
Olho pela janela e nas gotas que correm lentamente pelo vidro, misturam-se aquelas que me caiem dos olhos… Em cada uma delas, apagam-se as noites frias de ausência e os dias de silêncio… Um adeus segredado ao vento…Uma despedida feita ao vento que sopra…
Solto de novo a alma no tempo que corre e no rodopio das horas que passam, escrevo as palavras que o coração bate levemente… Solto a alma para que possa encontrar quem o dia a ira aprisionar.
O dia vai de novo se deitar no horizonte de meu mar e na noite que se vai aproximando, há um sonho onde está a doce melodia de meu amor…
Volto a sorrir…
Vagueio nas horas triste, que um relógio teimoso cisma em contar, perdida no tempo ausente de um sorriso…
Sigo por caminhos de raios de sol, verão que aos pouco se despede para dar lugar a minha melancolia, procurando nos dias passados, a força para seguir num presente esquecido… Caminhos de sonhos perdidos que tragam na saudade e com os quais pinto a nova tela de minha vida!
Ando sozinha por entre estrelas que me guiam pela noite, sem destino, sem rumo, mas com a certeza de chegar ao raiar do dia, com a sensação de ter sonhado, de ter vivido…com a ilusão de ter sido!!
Procuro-me no silêncio e no vazio que a alma me mostrou… perdi-me em algum lugar, numa ilusão qualquer… Já não sei quem sou, mas sei que de novo vou me encontrar!
Abro as portas do coração e espero que a noite se faça dia… Encho a alma de cores para pintar minha tela. Traço as linhas dos sonhos que se apagaram e invento na ausência que os minutos cantam no velho relógio, os tons claros da esperança… O sol traz com ele o calor de um beijo, a magia de um sorriso.
E quando o sol tocar na linha do horizonte o meu mar, talvez consiga sentir nas ondas do meu ser, o barco dos desejos, navegando nas marés dos meus sentidos. Abro o cais de minha alma para que possa ser acariciada pela brisa suave e quem sabe, embalada por uma melodia doce, tocada ao vento nas cordas de um coração que se quer apaixonar…
Dia 8 de Agosto…mais um ano se completou, 40 no total, e todas as mensagens, e-mail, e telefonemas diziam a mesma coisa… estou “kota” mas na idade mais bonita, a idade da ternura, a idade para ser aquilo que eu quiser. Nas brincadeiras que me fizeram sorrir, encontrei sempre a maior das verdades, entrei numa nova etapa de minha vida.
Andei a vasculhar as gavetas do pensamento e pouco encontrei além de cadernos amarelados pelo tempo, cheios de palavras, de sentidos, de pensamentos…muita dor, poucos sorrisos. Encontrei uma vida feita de Outono e de Invernos escuros e frios… Mas também descobri entre linhas que bordavam o coração, alguns sorrisos, alguns beijos ternos…um amor… uma saudade enorme!
Na confusão de estações que alimentavam minha alma, perdi-me muitas vezes e muitas vezes deixei que minha vida fosse apenas aquilo que queriam que fosse… Há muito que tinha perdido os sonhos e quando eles, por alguma razão, voltavam a preencher meu sono, só os deixava embalar a noite, inventando nela as estrelas mais brilhantes, o luar mais belo…
O dia amanheceu bonito, quente e cheio de promessas…mas acabou como sempre… de coração vazio… Dia 8 de Agosto…meu dia…o primeiro de uma nova vida!!
Hoje, as estações que se misturam na alma são apenas aquelas que quero sentir… Se chegar o Outono, farei dele a primavera e se o Inverno teimar em ser frio, inventarei o sol quente do verão… Se a primavera for colorida demais para meu olhos, então será pintada com as cores quentes dos meses que se despedem do calor e se o sol queimar minha saudade, será na neve e na chuva miudinha que a irei chorar!!
Não sei se vou ter força ou se serei capaz de mudar assim…mas prometi a mim mesma tentar, e é o que estou a fazer!
Deixo para trás a dor…enfeito-me de sorrisos…
Assim nasce uma nova Madalena…e quem não gostar, que se mantenha ao largo, porque no meu mar, agora, só navega quem eu deixar!!
Escrevi durante horas...
Espalhei pela folha branca de minha vida, mil palavras tingidas de preto, palavras que o arco-íris se recusou a pintar de luz. Palavras sem sentido, feitas de gritos que ninguém ouve...
Palavras como a emoção que são cantadas em todas as canções, melodias de desejos, de sonhos...Palavras de esperança sem esperança... Palavras de carinho, cheias de ternura e sorrisos, escritas para beijar quem as lê, nem que por um breve momento.
Nada estava bem. Apaguei tudo e de novo escrevi.
O branco de novo aparecia salpicado de uma só cor, triste, sem graça. Então fui desistindo, uma por uma, das palavras mais bonitas. Estavam no sítio errado. Não eram minhas!
Apaguei cada sentimento e deixei apenas as palavras vazias, cor de minha alma. Mas mesmo assim ainda não me sentia bem. Olhava para elas e sentia bem no fundo do coração a dor de as sentir... Não as quero mais!
Quando olhei de novo, a folha branca continuava branca, cheia de um vazio enorme... Apenas um pontinho lá estava esquecido... mas era apenas uma pequena lágrima...
Madalena
17/08/2005
Andei no passado... É estranho ler o que um dia fez sentido, ler palavras ditadas pela alma! E mais estranho é de novo sentir a mesma emoção... As folhas continuam brancas... salpicadas, aqui e ali, de uma lagrima!