Com a chegada do verão, a visita de amigos e familiares que nos chegam de outros horizontes, faz com que a mente confunde as palavras... mistura varias línguas e traga de novo o sotaque que tento esconder há alguns anos.
As palavras nascem confusas, em frases que começam em português e acabam em francês metendo pelo meio o inglês... Uma salada internacional!!
O pensamento sempre aconteceu na língua que foi a primeira a ser ensinada. Nunca deixei de pensar as palavras em francês apesar de elas nascer nas pontas dos dedos em português sem sequer procurar uma tradução. Mas com a chegada dos emigrantes isso torna-se difícil!
Tu me manques et je pense a toi à chaque instant… Sim… Sinto tua falta e penso em ti a cada instante...
Fico perdida na busca das palavras que teimam em misturarem-se e naquelas que por momentos desaparecem do meu vocabulário... Algumas que sempre usei, de repente parecem-me sem sentido, erradas... Outras voltam como se nunca tivessem sido caladas!
Mas todas elas, e seja qual for a língua em que são ditas, nascem na alma e nos sentidos... Crescem nos gestos e demoram-se no olhar perdido no horizonte... Todas elas são inventadas para falar de tua saudade... e para te dizer:
Je t´aime... amo-te !!
O tempo está parado, suspenso no alto das arvoras que ladeiam o rio, preso nos ramos dos Pinheiros que parecem entender meu silêncio. Não se ouve nada além da água do rio, límpida e gelada, que murmura a melodia de sempre... canta minha saudade ao ritmo de uma lagrima que teima em cair!
A aldeia parece deserta... O sol abrasador reflecte-se no espelho de água e toca minha pele, queimando na lembrança de uma caricia suave. O olhar perdido no horizonte dos montes que cercam a pequena aldeia, deixo o pensamento voar, de asas abertas ao encontro de um sorriso.
Olho em volta, a tenho a sensação de estar presa numa aguarela que alguém pintou num momento de pura magia. As varias tonalidades de verde contrastam com as casas de pedra e com os espigueiros de madeira... algumas casinhas pintadas de branco dão cor as encostas do monte. Lá no alto, a igreja... Um quadro que sempre me envolveu na sua beleza, no seu silêncio e nos seus aromas... meu quadro perfeito!
Entro na água e fecho os olhos... a alma arrepia-se na sensação doce de ser tocada. O rio tomou a forma de teu abraço, o silencio fala-me de tua saudade e os cheiros ganham o arome de teu perfume. Deixo de estar só na tela onde te invento junto a mim.
Ao longe, alguém toca uma melodia nas notas soltas de um acordeon... A aldeia enche-se de som. O sol vai se deitando devagar e está na hora de partir, rumo á outra vida, á outros sentidos... mas sei que sempre que voltar, na beira deste rio, ao aconchego desta aldeia que me adoptou e que amo, de novo irei estar contigo...
Porque estás e estarás sempre na magia que eu inventar para te ter perto de mim!
Hoje o mar não vai embalar meu sonho trazendo a praia dos meus sentidos o teu beijo. Hoje, ele não vai estar calmo, fazendo as ondas bailar ao luar como golfinhos prateados a luz das estrelas. Não vou sentir o cheiro a maresia que desperta as emoções...
Hoje o mar não vai falar-me de ti, não vai trazer no grito das gaivotas o som de tua voz. Não vai ficar gravada em suas areias meus passos que sempre seguiram o caminho de teu abraço...Hoje, o mar não é meu amigo...
Hoje o tempo vai parar num tempo que quero esquecer. Tempo que se fez tempo fora de horas e que eu não quero seguir! Basta as corridas loucas contra os ponteiros que nunca tiveram pena de quem sofre...
Hoje sigo quieta, deixando o tempo passar por mim...esperando de novo a hora em que ele se fará de novo meu tempo! E aí, sem pressa e sem atropelos, seguirei o tempo que será tempo de sorrir...
Hoje... hoje meu mundo deixou de girar por um instante. Ficou suspenso na respiração ofegante de um barco que naufraga nesse mar que não és tu. Barco de papel de que é feita minha alma...mar salgado das lagrimas que teimam em cair...
Hoje...não quero o hoje...que venha o amanhã!!
Queria escrever... escrever algo só para ti! Escrever palavras de ternura, de magia.... Queria dizer-te com elas o que sinto. Explicar os sentimentos, colocando em cada silaba os meus sentidos...
Peguei numa folha e pedi ao coração para escrever seu ritmo e fazer das palavras uma melodia que pudesse embalar teu coração. Esperei... Cada palavra que nascia imensa no peito, ficava pequenina, perdida no deserto de uma pagina em branco... Não sabia como dizer as palavras que vinham da alma...
Pintei a folha de azul...cor de céu onde as nuvens se fazem algodão sempre que te invento junto a mim. Coloquei no meio uma pequena lagrima que depressa se transformou em mar calmo... Num cantinho, desenhei um sorriso perfeito e ele logo se fez sol!
Olhei para a folha, e pareceu-me perfeita... até notar que havia na praia dos sentidos a tua ausência e a falta de ti.... O mar que senti calmo, tinha tempestades de emoções e o sol queimava de saudades...
Queria escrever... escrever algo só para ti. Não fui capaz.... porque não se escreve o amor que se sente, a doçura de um beijo, a dor de uma saudade...